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Arquitetos: Massimiliano e Doriana Fuksas
- Área: 108136 m²
- Ano: 2013
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Fotografias:Philippe Ruault, Camilla Pongiglione
Descrição enviada pela equipe de projeto. Segunda-feira, 11 de fevereiro, 2013, o Presidente da República francesa, François Hollande, inaugurou o Novo Arquivo Nacional da França, em Pierrefitte-sur-Seine, em Saint-Denis, Paris.
O novo edifício do Arquivo da França (108136 m²), em Pierrefitte-sur-Seine, Paris, é assinado pelos arquitetos italianos Massimiliano e Doriana Fuksas e após três anos de obras é aberto para o público.
O Arquivo Nacional, criado durante a Revolução Francesa, armazena documentos de regimes políticos desde o século VII até hoje. Ali são preservados alguns marcos na história da França: os papiros merovíngios, os processos dos Templários, o diário de Luís XVI, o Testamento de Napoleão, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, o juramento de Jeu de Paume.
O projeto do Novo Arquivo Nacional da França inspira-se na realidade circundante, a partir da visão da cidade como coexistente ao caos e à ordem. O conceito nasce e acontece a partir desta dualidade que se reflete na organização do complexo.
A escolha inicial era investigar o terreno e suas características nos âmbitos territoriais e sócio-culturais para que fosse revelada sua identidade única. O trabalho, por consequência, seguiu um princípio cardinal de arquitetura para a criação de espaços que estivessem de acordo com as necessidades da comunidade que o povoa.
O projeto enaltece a paisagem geográfica e arquitetônica da área de Pierrefitte sur-Seine Saint Denis, onde o edifício se insere.
O complexo não fora projetado para ser uma arquitetura auto-referencial, mas para ser um trabalho que possa guardar a memória e identidade coletiva ao mesmo tempo que se abre à expressões de artistas contemporâneos. Isto não foi pensado a partir de uma esfera contemplativa, mas por uma perspectiva de descoberta, pesquisa e participação para a plateia.
O projeto é composto de dois "corpos" principais: um que estende-se horizontalmente, "suspenso, leve, transparente", o outro tensionado em altura, "ancorado ao solo, imponente, refletido."
O primeiro, atirando-se em direção à cidade, consiste em volumes em balanço, chamados "satélites", que acomodam os escritórios, a sala de conferencia e a sala de exibições. As fachadas, em geral envidraçadas, conferem luminosidade e transparência aos volumes de diferentes proporções, que seguem uns aos outros e sobrepõem-se em "suspensão" na superficie da água.
O edifício que acomoda os Arquivos é um monolito imponente pensado como um espaço dedicado à memória e à pesquisa. Abriga o arquivo de documentos e a sala de leitura. As fachadas deste monolito são revestidas de uma "pele" de alumínio que percorre todo o volume, exceto por algumas inserções de vidro que permitem que a quantidade correta de luz adentre a sala e a via de entrada. O "nobre" edifício escultural lembra um objeto precioso, um baú de tesouros, que é refletido no véu de água.
As bacias estão localizadas entre o edifício de Arquivos, os volumes "Satélite" e no pé do volume de satélites. Passarelas acima delas criam uma conexão entre ambos volumes em balanço e os dois "corpos". O espelho de água se torna um veículo de mudança para a arquitetura, desenhando vazios e novos espaços, graças aos reflexos e ao jogo de luz natural criado pelos cortes nos volumes suspensos e à "pele" do monolito.
As fachadas dos dois "corpos" seguem uma geometria losangular que é repetida, tanto no revestimento de aluminio no edificio de Arquivos, quanto nas fachadas de vidro do volume "satélite".
Entre o monolito e os volumes "satélite" é encontrada a obra de arte de Antony Gormley. Um precioso objeto escultural que surge do véu de água como se extraisse daí sua força. Este objeto redesenha os espaços de um modo contemporaneo, circundando as fachadas do complexo arquitetônico. As faces geométricas articulam a obra durante sua passagem e dão vida à estrutura de uma corrente dodecaédrica, que reflete e projeta a si mesma sobre o espelho de água e a superficie espelhada dos volumes.
A ligação com a memória é traçada simbolicamente no trabalho de Pascal Convert, uma série de "cofres" de concreto locados em frente aos volumes "satélite". Estas caixas mostram os rostos em relevo de algumas personalidades que deixaram suas marcas na memoria coletiva. A instalação de arte é firmemente ancorada ao solo e, assim como o volume do monolito, aparenta que suas raízes estão aprofundando-se nas memórias.
Com pé direito duplo, o hall acolhe o visitante. O efeito "suspenso" do "satélite" é enaltecido pela intervençao artistica de Susana Fritscher que, com um toque minimalista, realiza tetos falsos em "folhas" de aço inoxidável vermelho, enfatizando a interação entre a arquitetura, o complexo e as linhas dos volumes "satélites". A cor vermelha dá profundidade aos volumes, que se destacam de modo horizontal em diferentes alturas, criando ao mesmo tempo um jogo de sólidos e de vazios, entre material e imaterial.
A entrada leva aos espaços públicos: sala de leitura, sala de exibições, e sala de conferências. O assento para a sala de conferências, "Carla" para Poltrona Frau, realizada em tecido vermelho é assinada pelos arquitetos Fuksas. A cadeira é formada por dois planos que se interseccionam e rotacionam para trás, para a cadeira e para o descanso de braço, como uma flor. Uma forma minimalista na medida.
Os interiores caracterizam-se pelos seus amplos espaços que proporcionam uma visão geral que faz imediata a percepção da importância e da singularidade do lugar.
A importancia do contexto, e portanto, a importância do território, assume forma concreta na intervensão paisagística de Florence Mercier. Seu projeto de áreas verdes criou uma interação real entre natureza, arquitetura e a plateia. O passeio verde que apresenta e guia o visitante até o complexo funciona como um palco, que alterna geometria, formas, cores e sombras.
Um projeto que visa dotar de emoções. Dois "corpos", dois "mundos", simbolicamente conectados por passarelas que, cruzando-se constantemente criam uma identidade que é enraizada na memória do passado com um olho para a contemporaneidade e o futuro. O projeto reflete a identidade e memória que pertenceu a França para toda a humanidade.